São Paulo diminuía o volume da minha voz como nunca antes na vida, ao mesmo tempo que me esforçava por esconder a deficiência. Conseguia, talvez, enganar um e outro, embora as palavras soassem desagradavelmente roucas. Maria Rita nunca mencionou o fato, mas era enorme o descontentamento pessoal com aquela eterna diferença entre o que gostaria de dizer – tinha uma alma de certo modo loquaz – e o que realmente saía da boca, depois de um esforço que acabava por interferir na organização do pensamento. Não se tratava só de voz baixa, mas, em certas horas, de um grande cansaço com as palavras, uma dificuldade em chegar até o final do que era preciso dizer. A consequência era que me tornava lacônico e, nos melhores momentos, conciso, quando na verdade era um sujeito fragmentário, pela metade, impedido ou envergonhado de exibir-me como era, ou pelo menos como julgava que fosse.